terça-feira, 26 de janeiro de 2016

diário da serra da estrela #00: residência artística em Portugal

Em fevereiro de 2016, dou início uma residência artística em Portugal com o objetivo de compor uma nova obra eletroacústica mista, mesclando instrumentos musicais tradicionais e sons eletrônicos.

Fui selecionado pelo programa de fomento das músicas ibero-americanas Ibermúsicas para a realização deste projeto, sendo recebido pelo Festival Dias de Música Eletroacústica, sediado no Conservatório de Música de Seia, uma pequena cidade no coração da Serra da Estrela, que apesar de seu tamanho tem uma vida musical bastante intensa. Além da oportunidade de escrever esta nova peça em colaboração com instrumentistas locais e trabalhar a parte eletroacústica no estúdio octofônico da instituição, esta residência artística me permitirá misturar-me ao cenário musical local, apresentando meu trabalho em concertos, palestras e oficinas.

http://www.festival-dme.org/2016/01/dme-26.html
Logo na primeira semana de minha estadia toco no Festival DME 26|44, que acontecerá de 6 a 9 de fevereiro, ao lado de um interessantíssimo time de artistas: o francês Antez, o britânico Steve Hubbacke os portugueses João Pais Filipe, Gustavo Costa e Henrique Fernandes, além do espanhol Agustin Castilla-Ávila.

No dia 4 de fevereiro faço uma fala no EIMAD - Encontro de Investigação em Música, Artes e Design com o tema "A reivindicação do corpo na composição musical", discutindo os aspectos corpóreos da composição musical e comento alguns de meus trabalhos recentes.

Ao longo da residência, utilizarei este espaço para publicar notícias sobre o processo de composição da nova peça e minhas aventuras musicais por lá. Aguardem mais novidades em breve.




terça-feira, 19 de janeiro de 2016

deCapitu, o filme




Dia 21 de janeiro de 2016, às 20h, na Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo-SP estreamos deCapitu, uma obra audiovisual média-metragem, criada a quatro mãos em colaboração com o cineasta Alexandre Charro, contando com a participação das atrizes Liliana Junqueira e Melany Kern.

Projeto audiovisual iniciado em 2013 a convite do NME para o selo NMElança, deCapitu explora elementos do Dom Casmurro de Machado de Assis através de uma linguagem visual e sonora experimental e contemporânea. É o resultado de um longo processo, que teve início em 2010, quando Rodolfo começou a experimentar as primeiras partituras com Liliana e Melany como estudos para a trilha sonora de Capitu Desterrada, da Sociedade Baderna de Teatro e Outros Atentados, dirigida por Pedro Mantovani. Em 2011, deCapitu tornou-se um trabalho autônomo, sendo apresentado como uma performance para duas atrizes e sons eletrônicos na mostra Conexões Sonoras 2, a convite do Ibrasotope. A parceria com Alexandre Charro estabeleceu-se em 2013 e o material performático e eletroacústico de deCapitu passou a ser trabalhado até chegarmos à forma audiovisual atual.

Com cerca de 40 minutos de duração, divididos em seis capítulos e um intermezzo eletroacústico, este filme não busca encenar a desventura amorosa entre Bento e Capitolina, uma história demasiado familiar. Em vez disso, nos faz confrontar com uma voz silenciada há mais de um século por um narrador suspeito, por quem temos nos deixado envenenar em sua conversa de bom moço, a ponto de nos tornarmos cúmplices de uma constrão narrativa que beira a perversão paranoica. Em sua proposta sonora e imagética, deCapitu afasta-se de qualquer atitude acusatória. Afinal, leva em conta a concretude da punição narrada por Machado, sem direito a apelação ou defesa: Capitu termina o romance exilada, morta e enterrada na Suíça, pouco importando ao narrador se a suposta traição permanecer fantasiosa e não comprovada. Por isso, deCapitu corporifica a voz desta personagem que luta para superar a sua única certeza: a de que sua derrota estásubentendida nas regras do jogo.