quinta-feira, 7 de novembro de 2013

generalização da periodicidade virou livro


Minha dissertação de mestrado virou livro! Disponível no site Cultura Acadêmica da Editora UNESP sob o título Generalização da Periodicidade, este trabalho investiga o conceito de periodicidade generalizada desenvolvido pelo compositor belga Henri Pousseur nos anos de 1960 com o intuito de expandir as possibilidades da poética serial. Este trabalho inclui uma análise de sua obra para piano Apostrophe et six réflexions e contou com a orientação de Flo Menezes. Para fazer o download gratuito do e-book, basta clicar aqui. Em breve, também será possível adquirir um exemplar impresso no mesmo endereço, pelo serviço de impressão sob demanda.

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Enquanto elaborava este trabalho, escrevi também uma pequena peça para vibrafone solo: réflexion apostrophique. Trata-se de uma singela homenagem a Pousseur, partindo da ideia de que a forma musical pode ser pensada em analogia à síntese sonora, sendo resultado da modulação entre periodicidades distintas. 

Embora oficialmente não fizesse parte da dissertação, esta peça foi estreada no teatro do Instituto de Artes da UNESP, no dia seguinte à minha defesa. O que se ouve aqui é a gravação desta estreia, em uma bela interpretação do percussionista Rubens Celso.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

aboios e utopia



Por canto nenhum pode-se entender lugar nenhum, tradução possível para palavra antiga: utopia. Pode ser também uma voz ausente. Nesse caso, serve de modelo o aboio: mais grito que canto, usado pra chamar o gado. Não escutado por humanos talvez não seja exatamente música. Quem sabe por isso mesmo algo mais: a comunicação possível entre homem e natureza, o que nos leva de volta ao terreno da utopia.

Os aboios tomados como ponto de partida são alguns dos coletados por Mário de Andrade em suas missões folclóricas. Inspirado mais pela ligação ancestral entre o homem e o gado apontada por Terence McKenna em seu livro Alimento dos Deuses, que por qualquer demagogia nacionalista, tomei os aboios como objetos sonoros. Escutei-os repetidas vezes, anotando as diferentes feições de seus inícios, sustentações e terminações para daí derivar figuras musicais que me ajudariam trazer para o plano da escuta uma estrutura abstrata formada por proporções de números primos e por desdobramentos intervalares específicos de um único acorde (em um procedimento que apelidei de "LFO harmônico").


[resumo das variações morfológicas encontradas nas gravações dos aboios]


Esta peça foi estreada em 2009 como parte da programação do 40º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão. Nesse festival, essa peça recebeu o Prêmio Camargo Guarnieri de Composição. É um prazer reouvir canto nenhum, mais de quatro anos depois com a Camerata Aberta, sob regência de Felix Krieger, dia 29 de outubro às 21h no SESC Consolação.

Para quem quiser relembrar ou já ir conhecendo um pouco mais a peça, este é um vídeo do concerto de estreia:


PS: Pessoalmente, a investigação poética da comunicação entre dois mundos proposta nessa peça ganha uma nuance particularmente dramática pelo fato de que, em meio ao processo de composição da peça, minha querida avó Janina ter cruzado o limiar deste mundo que conhecemos. Por isso, a partitura carrega uma dedicatória em seu nome.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

pó de marfim: corpo e código presentes

Dentro de minha produção recente, a improvisação eletrônica ao vivo tem ganhado espaço. Tem sido um exercício de repensar a presença através da máquina, o corpo através do código. A especulação sonora em tempo real, a instauração de um curto-circuito compositor-performer-programador. pó de marfim (2013) é uma destas experiências, tendo como matérias primas um libreto de ópera e o espaço vazio. Feita em parceria com Marcela Lucatelli e apresentada no concerto NME12 em 13 de abril de 2013. Aqui pode-se assistir a gravação ao vivo, feita na SP Escola de Teatro:


 

Excerto do primeiro ato d'O Elefante de Marfim ou carta musical-afetiva a Efe Erre em suas areias cabeçudas: "~CATARINA CLEMENTE, perde a memória e tenta reavê-la, motivo pelo qual se vê transmutada em Ópera. Com a ajuda de Gilgameshivashtar se lembra de que é a incorporação de Oefro, Orfeo através do espelho. Tem elefantíase entre os seios, como um coração exposto do lado de fora. Nua. As peças de marfim são tão alheias ao abstracto xadrez como essa mão que as rege."

terça-feira, 30 de julho de 2013

potências de dois


: (2013) é uma miniatura acusmática especialmente composta para o álbum NMEaniversário2@bandcamp, que comemora o segundo ano de atividades do NME, com 22 peças de aproximadamente 2 minutos cada, compostas por 25 compositores inspiradas livremente no número 2.
: revisita retorno em linha reta (2012) um ano mais tarde, tomando-a como seu material sonoro de base. A peça anterior como um todo é submetida a diversas transformações que têm o número 2 como elemento comum. São realizadas oito compressões temporais, que correspondem às potências do número dois com expoentes de 0 a 7 (o que gera durações de 1 a 128 segundos). Alguns dos materiais obtidos têm então alguns aspectos modulados por osciladores com frequências de 2, 22 e 222 Hz, afastando-os ainda mais da sonoridade original. A partir daí inicia-se um processo de corte, montagem e mixagem que esculpe sonoramente a forma final da peça. Curiosamente, para acentuar ainda mais a inspiração numérica da peça, o processo todo foi realizado em apenas dois dias! Divirta-se: